Perante a falta de dinheiro e a falta de trabalho, uma mulher, doente asmática, com um princípio de pneumonia, em dia de chuva dirigiu-se ao Serviço Social do Centro de Saúde pedindo ajuda para a aquisição de medicamentos. Impotente, perante esta e dezenas de situações diárias, a assistente social, em desespero, disse à utente que fosse “fazer o que fazia antes”. Assistindo, uma velhinha quis dar vinte euros à mulher a qual ficou relutante em aceita-los, pois a velhinha também precisava daquele dinheiro. A assistente social insistiu com a sua utente para que aceitasse anuindo que “coisas destas não acontecem todos os dias”.
No desempenho da minha actividade profissional com toxicodependentes e muitos “sem-abrigo”, vi de perto o trabalho das assistentes sociais, muitas vezes capazes de «fazer omeletas sem ovos». Sei como é, desesperante, cada uma destas situações. São pessoas, famílias inteiras com carências inimagináveis. A impotência das assistentes perante os casos sociais aumenta. De ano para ano as verbas são reduzidas, há cada vez menos dinheiro para as situações de risco e no entanto o número de casos aumenta.
Pergunta o contribuinte – “e o Orçamento de Estado para o qual eu contribuo?”- está mal gerido! - É um orçamento que está mais preocupado com o chamado TGV, com o foro a grandes grupos económico, à banca e a grandes empreiteiros, em favorecer a criação de centrais de compras que privilegiam certas empresas de certos amigos, ao mesmo tempo que penaliza as pequenas e médias empresas locais, penaliza as famílias e descarrega todo o esforço de apoio social nas autarquias e na solidariedade do próximo. Perante a falência do sistema de apoio social do Estado, pergunto: - por quanto tempo vão as Câmaras Municipais, as IPSS e os Centros Paroquiais suportar a situação? – Um, dois anos? – E em 2011 e 2012 quando acabarem os subsídios de desemprego quem vai suportar a crise socioeconómica no seu auge? Por quanto tempo haverá velhinhas solidárias com o sofrimento dos outros? – É isto que o Governo quer para o país? – Portugueses, pobres, miseráveis e solidários uns com os outros, enquanto alguns se enchem às nossas custas para depois investir no estrangeiro? – É já este o país que temos hoje.
Enquanto se passava a cena no Centro de Saúde, o país televisivo preocupava-se com as finanças regionais e comparava os montantes cedidos à Madeira, aos Açores, a Trás-os-Montes e ao Alentejo – mas como comparar o que não é comparável?! – “Regiões”, Portugal tem duas, os Açores e a Madeira. O resto é a divisão administrativa do continente retalhado a 18 distritos, depauperados, sem investimento digno de progresso e sem que este seja, verdadeiramente, dirigido aos portugueses. Nesta matéria o distrito de Faro tem muito que se lhe diga pois nos últimos 5 anos foi o mais penalizado de todos. Na prática este foi o orçamento apresentado – só agrava a situação existente. |